Devido à repercussão internacional da audiência sobre
desaparecimentos no Brasil e na Argentina, a sobrinha de Antônio Pregoni entra
em contato com a Comissão Nacional da Verdade para colaborar com as
investigações. Familiares do desaparecido ainda não tinham sido
localizados pela comissão, nem pelo governo argentino. A audiência,
organizada em conjunto pela CNV e pela Comissão Estadual, fez revelações
importantes sobre o desaparecimento de estrangeiros no Brasil.
De acordo com os documentos da base de dados do Serviço
Nacional de Inteligência (SNI) e do Arquivo Nacional, apresentados nesta
sexta-feira (11) na Assembléia Legislativa de São Paulo, existe uma ligação
entre o desaparecimento do argentino Antonio Pregoni, do francês Jean Henri
Raya e do brasileiro Caiupy de Castro, que foram vistos pela última vez em
novembro de 1973, no Rio; e o desaparecimento do ex-major do Exército, Joaquim
Pires Cerveira, visto pela última vez em dezembro, em Buenos Aires.
A investigação está sendo realizada pelo Grupo de Trabalho Operação Condor, da CNV, e pela pesquisadora da USP, Janaína Teles. Para Janaína, esse levantamento é fundamental, principalmente porque revela um monitoramento anterior à década de 70.
"A participação do Brasil, que sequestrou gente no Cone Sul e possivelmente também na Europa, é muito anterior à criação da Condor. A cooperação inclui Uruguai, Chile e Argentina, e essa cooperação era muito mais complexa do que a historiografia diz normalmente", revelou.
Punição
A Operação Condor foi uma aliança entre os regimes autoritários da América do Sul, ocorrida nas décadas de 70 e 80. Carlos Lafforgue, diretor do Arquivo Nacional da Memória da Argentina, disse, em seu depoimento, que ainda é necessário descobrir muitas informações sobre o caso.
"Temos feito uma investigação muito profunda sobre o plano Condor. Esse plano não tem data de nascimento, ninguém sabe quem é o padrinho, quem é seu pai ou mãe. Mas, se não temos uma figura representante, nós temos as vítimas", afirmou.
Lafforgue destacou o cuidadoso trabalho de cruzamento de dados e de endereços, por meio do qual foi possível criar um relatório com 700 nomes de pessoas que desapareceram em países vizinhos, dentre os quais há, pelo menos, trinta brasileiros. Segundo o diretor, na Argentina, há cerca de 500 pessoas condenadas pelos crimes cometidos durante a ditadura.
Para Rosa Cardoso, membro da CNV, o caso ainda pode se tornar um inquérito no Ministério Público. Ela exigiu muito rigor, mas também pressa, porque essa história precisa ser contada.
"Essa atividade é complexa, porque implica
em nós termos que apurar o fato com muita precisão, ouvindo vítimas, mas também
os torturadores e assassinos em alguns casos. Mas, ao mesmo tempo, nós temos
pressa, porque também esses violadores estão morrendo. Nós todos estamos
ficando velhos. Essa história precisa ter resultados para os
sobreviventes", destacou.
A psicanalista Mabel Bernis, viúva de Raya, se emocionou
ao tomar conhecimento do andamento dos trabalhos, e revelou nunca ter imaginado
que esse dia chegaria. "Se há assassinados, há assassinos, e isso tem que
ser investigado. Que haja justiça para todos. A verdade tem que aparecer, tem
que surgir. Não importa o tempo que passe", afirmou.
Família Pregoni
Logo no começo da apresentação, André Sabóia, secretário-executivo da CNV, fez uma revelação inesperada: depois de anos de busca, a família Pregoni entrou em contato. "Pouco antes de começar a audiência, recebemos uma ligação de Cecília Pregoni, sobrinha de Antônio, que vive em Córdoba.
Ela disse que, ao saber da audiência, fez uma petição à Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas da Argentina (CONADEP) a fim de abrir um inquérito no país. É importante ressaltar que nenhum desses casos é processo em outros países.
Essa é uma notícia importante, que mostra a importância da difusão desse processo de audiências públicas, que não é só um trabalho pedagógico, mas também, de difusão", comemorou.
Segundo Cecília, Pregoni possui dois irmãos vivos, que também vão colaborar com as investigações, e um amigo, que testemunhou o caso, já está sendo procurado. O desaparecimento do argentino, que completa 40 anos no próximo mês, parece ter finalmente encontrado uma luz no fim do túnel.
Fonte: Comissão Nacional da Verdade
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