quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Mano Oraculo participou do Festival Mundial da Juventude na Venezuela.






Aconteceu no ano de 2005 na cidade de Caracas o décimo sexto Festival Mundial da Juventude e os Estudantes da Venezuela.


O Festival tem o caráter da luta contra o Imperialismo econômico, social instalado pelas grandes potências.





O encontro teve abertura no ginásio de Hipodromo com atrações culturais da América Latina e apresentação de Freestyle de Mano Oraculo, DJ Francis e MC Colombiano Nõno.





Abertura oficial foi marcada por uma intervenção  histórica de mais de 2 horas do ex presidente venezuelano Hugo Chavez Frias, que ressaltou a importância dos jovens na luta contra o Imperialismo, sobre a conjuntura internacional e dando as boas vindas do visitantes de mais de 100 países.





Dentro do encontro foi realizado o Fórum Internacional do Hip Hop no espaço Tiuna Fuerte, com mais de 20 países que buscavam trocar experiências e novas bandeiras para reivindicação da cultura nos países.







Dentro do encontro houve apresentações do Hip Hop do Brasil nos palcos do encontro e também um rolê pelas ruas de caracas com graffiti e uma visita na praia de Chichiriviti.



















Mano Oraculo role skate Campinas, Praça das Àguas.








Wallride Dimas.

Mano Oraculo em Minas Gerais.







Aconteceu na cidade de Contagem o Quadragésimo Congresso Nacional UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundarista) com a participação da entidade Nação Hip Hop Brasil realizando intervenção social, cultural e política no encontro.






Após atividade, fizemos uma imagens da cidade de Belo Horizonte e alguns lugares para prática do skate.

Fotos:









Centro-Santa Teresa


Lagoa da Pampulha







Estádio do Mineirão





Aeroporto Internacional -Confins-MG



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Ditadura: Engenheiro foi torturado e morto em hospital militar






Parentes do engenheiro mecânico Raul Amaro Nin Ferreira apresentaram nesta quinta-feira (5) na Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio) documentos sugerindo que ele pode ter sido interrogado e torturado em 11 de agosto de 1971, enquanto estava internado no Hospital Central do Exército (HCE), onde morreu, naquele mesmo dia, aos 27 anos.

Sobrinhos da vítima mostraram um ofício do então comandante da 1ª Região do Exército, general Sylvio Frota, à direção do hospital, informando que dois agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) iriam ao hospital interrogar o engenheiro naquela data. Representante da linha dura, Sylvio Frota foi ministro do Exército durante o governo Ernesto Geisel (1974-1979), do qual foi demitido quando tentou ser o candidato à sucessão do regime militar, contrariando a vontade do presidente.

No levantamento - produzido pelos irmãos Raul Nin Ferreira e Felipe Nin Ferreira em conjunto com o Armazém da Memória e com o Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo - há ainda um relato de interrogatório ocorrido entre os dias 4 e 11 de agosto, quando o engenheiro já havia sido transferido para o hospital. O registro descreve o que foi abordado em uma das sessões e ainda informa que "não houve tempo para inquiri-lo sobre todo o material".

Ao entregar o relatório à Comissão da Verdade, a família pede que sejam confrontados por especialistas o laudo médico de entrada no hospital e o do legista que examinou seu cadáver, para conferir se algum ferimento adicional aos descritos no primeiro documento aparece no segundo, o que indicaria que nesse interrogatório houve tortura. Também foi solicitado que sejam convocados para depoimento os servidores que trabalhavam no hospital, à época.

O jornalista Álvaro Caldas, que representou o presidente da CEV-Rio, Wadih Damous, na apresentação, informou que será criado um grupo de trabalho para dar encaminhamento aos pedidos da família. "Tortura dentro do Hospital do Exército seria algo inédito", disse Caldas, que elogiou a iniciativa dos sobrinhos de Raul Amaro Nin Ferreira: "É excepcional estarmos recebendo esse trabalho. Isso mostra a importância de o trabalho sair da comissão e ser feito por outras pessoas".

O relatório elaborado pelos sobrinhos do engenheiro desmente outros fatos que sustentaram as versões da época, como a de que o pai teria delatado o local onde Raul morava, a de que ele se feriu resistindo à prisão e a de que era integrante de movimentos armados.

De acordo com os dados levantados, o engenheiro, que trabalhava no Ministério da Indústria e do Comércio, era amigo do então militante Eduardo Lessa e ofereceu sua casa para guardar um mimeógrafo que era usado pelo Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Nin Ferreira também ajudava Lessa financeiramente, porque o militante não conseguia trabalho devido à participação na luta armada.

Nos interrogatórios a que foi submetido, o engenheiro foi questionado principalmente sobre sua relação com Lessa, o que ele acabou confessando apenas no último encontro com os agentes. Raul Amaro Nin Ferreira foi preso em 1º de agosto de 1971, e, em 4 de agosto, foi transferido para o hospital com ferimentos graves. Sua mãe, Marina Lanari Ferreira, iniciou uma batalha judicial contra o Estado que só terminou em 1994, com a responsabilização da União pela morte, tortura e prisão do filho.

A pesquisa feita pelos sobrinhos de Raul tomou como ponto de partida o que já havia sido levantado por Marina, contando depois com documentos do Arquivo Nacional, além de entrevistas com amigos e familiares. O relatório será disponibilizado gratuitamente nos próximos dias, no site do Armazém da Memória (http://www.armazemmemoria.com.br/).


"Eu espero que esse trabalho ajude os movimentos sociais a refletir sobre a questão da violência do Estado contra sua população, e a não imaginar que foi só uma coisa da ditadura nem só contra presos políticos. Há um histórico de violência do Estado contra a sociedade desde que o Brasil é Brasil", lamentou o sobrinho Raul Nin Ferreira.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Verdade histórica do Chile se esconde em mortes de alto perfil






A persistência em indagar as causas da morte do cantor Victor Jara, dos ex-presidentes Eduardo Frei Montalva e Salvador Allende, e do poeta Pablo Neruda dá implícita visibilidade a outros milhares de chilenos que sofreram crimes da ditadura (1973-1990), que ainda não foram punidos. 

Por Marianela Jarroud, da IPS




Pablo Neruda gravando seus poemas na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em 1966. Foto: Domínio Público

“Existe aqui uma busca pela verdade histórica por meio de processos penais”, cujo maior impulso tem sido a impunidade, disse à IPS o diretor da cadeira de direito penal da Universidade Alberto Hurtado, Luis Emilio Rojas.

Embora “se possa fazer efetivas eventuais responsabilidades penais que possam ter existido, indiretamente, a reativação dos processos penais ajuda a estabelecer a ocorrência de fatos que são marcos, que é a história do Chile”, acrescentou Rojas. O advogado de direitos humanos Eduardo Contreras foi o primeiro a apresentar, junto com a Agrupação de Familiares de Executados Políticos (Afep), uma queixa para que fossem estabelecidas as causas da morte do presidente socialista Salvador Allende.

Atualmente, pede que seja esclarecida a morte do poeta Pablo Neruda, ocorrida em 23 de setembro de 1973, apenas 12 dias depois da sangrenta derrubada de seu grande amigo Allende, que se suicidou durante o bombardeio das forças golpistas contra a sede do governo, La Moneda, em 11 de setembro de 1973. Os restos de Neruda foram exumados em abril do túmulo que compartilhava com sua última mulher, a cantora e escritora Matilde Urrutia (1912-1985), em sua residência de Isla Negra, 110 quilômetros a oeste de Santiago.

No dia 8 deste mês, sete meses após a exumação, o Serviço Médico Legal informou que peritos franceses internacionais descartaram a presença de substâncias tóxicas de origem química nos restos de Neruda. Contreras alertou que se trata apenas de uma primeira parte da pesquisa e antecipou que “solicitaremos, hoje, que se envie a investigação para outros laboratórios em busca de elementos tóxicos de natureza biológica, não química, como gás sarin, gás mostarda, bactérias”.

O juiz Mario Carroza, que investiga se houve participação de terceiros na morte do ganhador do Nobel de Literatura de 1971, declarou que “judicialmente ainda não se pode estabelecer” se Neruda foi morto, ou não, há 40 anos. Se os resultados desses especialistas não satisfazem todas as partes, “teremos que buscar alternativas”, acrescentou. Neruda tinha ao morrer 69 anos e há 28 estava filiado ao Partido Comunista do Chile. Na época se preparava para partir para o exílio no México, de onde se propunha a ser a voz da oposição à ditadura.

Seu ânimo foi derrubado nos dias anteriores à sua morte, quando suas três casas foram invadidas por agentes da ditadura. Em sua casa mais apreciada, a de Isla Negra, sofreu a brutalidade militar: a tropa revirou suas coleções de caracol, conchas e borboletas, suas garrafas e suas carrancas de proa, livros, quadros e até seus versos inconclusos. Os militares o forçaram a demitir todo o pessoal e só ficaram Urrutia e seu motorista, Manuel Araya.

Neruda sofria de câncer na próstata, mas Araya garante que ele morreu pela suposta injeção que um falso médico lhe aplicou no estômago na clínica privada Santa Maria, o que teria sido ordenado pela ditadura. Na mesma clínica morreu, nove anos depois, o ex-presidente Eduardo Frei Montalva (1964-1970), contaminado com agentes biológicos, segundo a investigação judicial do crime.

O caso Frei teve impacto na sociedade chilena, que comprovou que a ditadura havia utilizado toxinas contra seus opositores, mas também serviu para que “alguns incrédulos tomassem consciência”, disse à IPS a presidente da Afep, Alicia Lira. No entanto, embora agora se fale abertamente das violações dos direitos humanos, a impunidade persiste, acrescentou. “Há impunidade quando muitos casos foram encerrados pela promotoria militar, que é juiz e parte; quando mais de 178 agentes do Estado que assassinaram e forçaram o desaparecimento de pessoas não passaram um só dia na prisão, porque foram beneficiados com a meia prescrição ou pena perdoada”, lamentou Lira.

O compositor, cantor e ativista Víctor Jara foi morto em 15 de setembro de 1973, após ter sido detido no Estádio Nacional como muitos outros opositores. Seu corpo mostrava sinais de tortura e perfurações de bala. Mas só em 2008 foi aberta uma investigação sobre sua morte e os responsáveis. O principal deles, o tenente do exército Pedro Barrientos, ainda está livre nos Estados Unidos. Para Contreras, diante das contradições, é um dever “moral” investigar.

“Assim como a lei obriga a investigar a morte de um homem que morre de frio por falta de atenção, o que me parece justo, por que não se investiga a morte de um presidente da República. Isso nos parece uma perfeita canalhice”, disse se referindo a Allende. Por muitos anos subsistiram dúvidas sobre a morte de Allende, que se manteve na sede de governo, armado e resistindo ao bombardeio a que foi submetido pelos golpistas. Finalmente se confirmou que se suicidou. No caso de Neruda também houve contradições, por isso “é uma obrigação ética e moral investigar, e, se não se fizer, é canalhice”, ressaltou Contreras.


Durante o regime militar morreram 3.065 pessoas e cerca de 37 mil foram para a prisão por causas políticas. As causas judiciais por violações de direitos humanos ativas no Chile são cerca de 1.300, e se referem a execuções extrajudiciais, desaparecimentos, torturas, sepultamento ilegal ou associação ilícita, cometidas entre 1973 e 1990. Essas causas e outras já resolvidas representam 75% das vítimas de execuções ou desaparecimento forçado reconhecidos pelo Estado, mas somente em uma mínima proporção dos que sobreviveram à prisão política e às torturas.

A tortura, um crime demasiadamente humano






Um livro essencial sobre os crimes da ditadura: é lançado, em São Paulo, Tortura, testemunhos de um crime demasiadamente humano, de Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes.




Por José Carlos Ruy*

A história dos brasileiros que ficaram no Brasil durante a ditadura de 1964 e enfrentaram a clandestinidade, as perseguições, prisões e toda a barbárie cometida pela repressão do regime militar ainda precisa ser melhor conhecida. Há inúmeros relatos e memórias daqueles que foram forçados a ir para o exílio e, de lá, lutaram contra o arbítrio, mas a história daqueles vai sendo, aos poucos, revelada.

Uma contribuição essencial, neste particular, é o livro Tortura, testemunhos de um crime demasiadamente humano, de Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes (a Dodora), que a editora Casa do Psicólogo acaba de lançar. 


A autora, psicanalista, é ela própria uma sobrevivente dos tempos de barbárie. Começou sua militância na Ação Popular (AP) em 1963, foi presa entre 1968/1969 (juntamente com seus filhos Priscila e André que, na época, tinham idades abaixo de quatro anos!); mais tarde, no final da década de 1970, foi uma ativa dirigente e militante da luta pela anistia no Brasil. 

Seu livro traz uma discussão teórica sobre as motivações da tortura baseada nas teorias de Freud, com uma interessante apresentação das cartas sobre a guerra - e a violência - trocadas entre Einstein e pai da psicanálise.


Mas a investigação feita por Maria Auxiliadora vai muito além dos motivos psicológicos da violência política. Há um extenso capítulo que trata da tortura no Brasil, com um bem documentado relato da história da ditadura de 1964 e dos métodos da repressão política. Outro capítulo lança o olhar sobre a história da tortura de maneira mais geral, abrangendo desde a antiguidade, a Inquisição, e inclui a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Argélia (1957-1962), quando os franceses desenvolveram métodos de tortura e desaparecimento de presos políticos assassinados que fizeram escola, nas décadas seguintes sobretudo entre os militares norte-americanos e latino-americanos.

Outro capítulo traz o relato de cinco vítimas da repressão e da tortura: Alípio Freire, Aldo Arantes, Haroldo Lima, Gilse Cosenza e Rita Sipahi.

O estudo realizado por Maria Auxiliadora aprofunda a compreensão da barbárie cometida pela repressão. Aborda aspectos psicológicos, históricos, sociais, jurídicos, sobre estes crimes. O sistema da repressão, na ditadura de 1964, envolveu militares de diferentes patentes e policiais civis, agentes públicos no exercício de sua função pública que “incorporaram o papel de torturador”. E teve o patrocínio de empresários que “acompanharam diretamente sessões de tortura e financiavam equipamentos para torturar”. 

Maria Auxiliadora vai além e busca as raízes históricas da violência na sociedade brasileira. Revela como ela está enraizada na colonização e é uma herança perversa do escravismo. Ela decorre, diz, do “modelo de predação e rapinagem dos povos que os europeus recém-chegados aqui encontraram, e sobre a exploração que a colonização manteve como prática”. A sociedade que nasceu com a colonização foi fundada na escravidão que, vigorando oficialmente até 1888, diz ela, “deixou uma marca indelével na nossa história e os incontáveis estudos sobre sua vigência não esgotam nem exorcizam a barbárie perpetrada pelos portugueses, pelos brasileiros e compartilhada pela sociedade”.

A grande novidade do livro está na exposição detalhada da ação dos franceses na Guerra da Argélia; eles se tornaram uma espécie de polo aglutinador da violência política nas décadas seguintes, usada principalmente pelos EUA na guerra do Vietnã e pelos militares latino-americanos que, com amplo apoio dos EUA, instituíram ditaduras civis-militares na década de 1960.

Maria Auxiliadora baseia-se sobretudo no depoimento do general Paul Aussaresses que, na Argélia, foi um dos comandantes do destacamento de paraquedistas (foi o braço direito do comandante dos paraquedistas, general Massu).


Quando Massu e Aussaresses, já nonagenários, publicaram suas memórias, em 2001, o debate público sobre a tortura ganhou força na França. Ambos confirmaram que os mais de três mil desaparecidos políticos foram, na verdade, executados. Segundo Aussaresses, desde meados da década de 1950, a tortura e as execuções sumárias faziam parte da política de guerra francesa, e chegou a vangloriar-se por elas.

Nas décadas seguintes, ele especializou-se na formação de oficiais norte-americanos e de vários países latino americanos nesses métodos iníquos de combate e aniquilação de opositores políticos. Em 1961 foi designado pelo governo francês para apoiar os norte-americanos em combate no Vietnã, onde os vietnamitas haviam iniciado a guerra de guerrilhas, que os norte-americanos mal conheciam, mas que os franceses enfrentaram na Argélia. 

Aussaresses se instalou em Fort Bragg, na Carolina do Norte (EUA) onde, disse, “ensinava as técnicas que havia aprendido durante minha carreira” - isto é, a tortura e o desaparecimento de presos políticos. Além de militares norte-americanos, havia outros de países como Bolívia, Argentina, México, Colômbia, Brasil, Paraguai, Uruguai, Chile e Venezuela. E formou alunos que foram esteio, na década seguinte, de ditaduras em seus países. 

Aussaresses diz que não ter sido um mero mercenário, mas que sua ação “pedagógica” tinha conhecimento de toda hierarquia militar. “Eu não fui um mercenário, mas um oficial superior francês em missão oficial”, que ocupava um posto “dentro da cooperação entre França e Estados Unidos, nosso aliado na luta contra o comunismo”. Isto é, mais do que psicológica, sua missão fazia parte da luta de classes.

Aussaresses esteve no Brasil em 1973, a convite da ditadura, tendo sido adido militar à embaixada da França. Um de seus amigos mais íntimos era o então coronel João Batista Figueiredo, do Serviço Nacional de Informações, o mal afamado SNI. Além de Figueiredo - que viria a ser o último general presidente da ditadura de 1964 - o general francês também conviveu com o facínora da tortura e do assassinato político, o delegado Sérgio Fleury. E deu aulas de tortura e desaparecimento de opositores políticos em Brasília, Manaus e outros lugares.

Nesta época em que o debate público da tortura, do assassinato político e da necessária exposição pública dos responsáveis por estes crimes cresce no Brasil - principalmente entre a juventude -, a leitura e oi debate do livro de Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes é fundamental!


*José Carlos Ruy é jornalista,  membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil, editor do jornal A Classe Operária e do Portal Vermelho.